quarta-feira, 3 de março de 2010

Déficit de atenção ainda é problema subestimado

Postado por Carol, Gabriela, Julia, Jullia A., Mariana M., Mariana, Maiara, Vitória e Vitória B. às 06:02


As vendas de metilfenidato - medicamento indicado para o tratamento de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) – saltaram quase 80% entre 2004 e 2008, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O aumento provocou suspeitas de uso indiscriminado da droga: levantou-se até a hipótese de que crianças receberiam erroneamente o diagnóstico positivo por conta do comportamento agitado. Além disso, adolescentes estariam obtendo o remédio tarja-preta clandestinamente para turbinar suas funções cognitivas.

Consultados acerca da eventual prescrição infantil imprópria, especialistas ouvidos por VEJA.com apostaram justamente na tese contrária. "Configura-se mais um caso de subdiagnóstico do que de prescrição exagerada", afirma Luís Rohde, psiquiatra da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). "Esse fenômeno de vendas mal corresponde à necessidade real do país", complementa Paulo Mattos, psiquiatra da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor do livro sobre o tema No Mundo da Lua. A partir de dados da Anvisa e do IBGE, o médico diz que menos de 30.000 pessoas com TDAH são tratadas por ano no país - número baixo, frente aos 3 milhões de brasileiros potencialmente portadores.

Por essa razão, os especialistas preferem creditar a disparada no consumo à disseminação do conhecimento sobre o distúrbio neuropsiquiátrico - que atinge entre 3% e 6% das crianças em idade escolar. "Quanto maior a gama de informações, capacitação e esclarecimento acerca de um transtorno, mais pessoas procuram um diagnóstico. Isso faz com que aumente a incidência do uso da medicação", afirma Iane Kestelman, psicóloga e presidente da Associação Brasileira de Déficit de Atenção.

Diagnóstico difícil - A opinião dos médicos, contudo, não encerra a questão. "De fato, existem diagnósticos errados e o uso desnecessário da medicação - o que ocorre em todas as áreas medicina. Mas o tratamento correto não pode pagar a conta dos maus profissionais", afirma Kestelman.

Na raiz do problema está a dificuldade no diagnóstico de TDAH. Ao contrário de outros males, não há um exame laboratorial que possa complementar ou confirmar a análise realizada em consultório. Para descobrir se uma criança possui o transtorno, é preciso observar se os sintomas ocorrem há pelo menos seis meses em ambientes diferentes, como escola e família. Além disso, o médico especialista deve, por meio de entrevista, analisar se o perfil do paciente se encaixa em uma lista de 18 sintomas. Isso pode dar margem a que um médico menos experiente realize um diagnóstico exagerado.

"Os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade têm que se manifestar em todos os contextos em que a criança vive e precisam provocar um prejuízo na vida dela, seja no relacionamento familiar, social ou no desempenho acadêmico", explica Marcos Arruda, neurologista pediátrico do Instituto Glia e membro da Associação de Neurologia e Psiquiatria Infantil.

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